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10/27/2009

Camisa Número Um

Dimas Cyrne da Luz.

A existência de cada ser humano é ímpar, alguns já nascem com o destino traçado, e muitos não conseguem realizar todos os seus sonhos.
Há quem diga que até para as flores existe a "Sorte", umas nascem para enfeitar a vida, outras para enfeitar a morte. Mas uma coisa é certa na vida: existe a lei da compensação. Às vezes, perde-se de um lado, mas se ganha de outro.
No início da década de setenta, aos sábados, à noite, era realizada uma reunião no jardim de Rio Preto-MG. O assunto era a escalação do time de futebol de nome Central, que iria jogar no domingo. Muitas discussões, considerações e ponderações...Todos queriam jogar, um com a camisa três, outro com a nove e aí por diante...Mas uma camisa não era contestada – ela tinha seu titular absoluto, era a camisa de número um, a camisa do goleiro, e este titular chamava-se ZÉ PATINHA. De estatura mediana e magro, sem dúvida, o melhor goleiro da época. Debaixo do travessão, ele se tornava um gigante e criava asas, pois chegava a voar para fazer as defesa mais difíceis. A bola não balançava as redes. Assim, por muitos anos, graças ao talento do goleiro Zé Patinha, fomos vitoriosos.
O tempo passou, o time de futebol foi desfeito e cada jogador seguiu seu destino. E numa tarde cinzenta do mês de agosto do ano dois mil e nove, o serviço de alto falante de nossa Rio Preto, anunciou o que não queríamos ouvir – era o falecimento de José Maria Torres de Oliveira, o popular Zé Patinha. Fiquei triste e rezei. É o mínimo que um amigo pode fazer, recordei suas defesas como goleiro e, por um instante, tive a impressão de vê-lo novamente voar, mas desta vez não para pegar a bola, mas em direção ao Céu. Compartilhamos, muitas vezes, caçadas de rãs, banhos no rio Preto; jogos de bolinha de gude, e partidas de futebol, era meu amigo de infância e juventude. Às vezes, lamentava para mim a perda de sua mãe, que o destino lhe roubara ainda quando criança. Muito bem criado pelos avós, segui seu destino: foi coroinha na Igreja Matriz Senhor dos Passos de Rio Preto-MG, foi carregador de malas, pois nesta época ainda existia a saudosa Maria Fumaça, engraxou muitos sapatos, trabalhou como servente de pedreiro, pintor e também em firmas fora de nossa cidade, sempre trabalhador, honesto e amigo. Depois casou-se, teve filhos e por um tempo dizia estar feliz, mas o destino lhe reservara a separação...Mudou-se para Valença, e por lá permaneceu por muitos anos até os últimos dias de sua vida.
No jogo da vida, às vezes, procuramos livros e doutores, para nos ensinar como venceR. E é com pessoas humildes, como você, Zé Patinha, que aprendemos a driblar as adversidades da vida, com sabedoria, simplicidade e alegria.
Não sei quanto tempo vai levar, mas antecipadamente queria lhe pedir um favor: guarde aí para mim a camisa de número sete, já que a camisa de número um foi e será sempre a sua.
Descanse em paz, Zé Patinha, você merece.

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