Você já ouviu falar em “toco
de enxurrada”? É aquele tronco de árvore
que nos rios da vida, apesar de toda a pressa da água, navega devagar, pára
aqui, enrosca ali, dá um tempo mais adiante.
Proseia, bate papo, emociona-se de riso, de choro, de sonhos. E, ao
seguir, de novo, nas águas, parte renovado de esperanças, deixando e levando
frutos da amizade. Pois é, graças à sabedoria passadas pelos pais, que muitos
“tocos de enxurrada”, navegam pela vida e fazem muitas paradas. Alguns param
nas faculdades, se tornam Psicólogos, Pedagogos, Professores, enquanto
trabalham para sustentar a prole às vezes numerosa. Outros, afastados dos
bancos escolares, tornam-se boiadeiros, pescadores, caçadores e ávidos
contadores de histórias. Conhecem cada canto de pássaro, cada toca de bicho no
mato, cada rês desgarrada. Descobrem que por viver como um “toco de enxurrada”,
ouvindo, vivendo histórias e visitando os tesouros da amizade, tornam-se algo
na vida. Às vezes, este “toco de enxurrada” nascido no alto da serra, na
nascente do rio, ou nas encruzilhadas ao pé do morro, moleca por aí, fazendo
estripulias e levando a vida como quer.
Livre, quando desgarrado, avança pelas matas “engaiolando” passarinhos,
catando pinhões soltos das árvores, escondendo-se à beira das estradas,
atirando pedras na bunda dos bois, só para ver o estouro da boiada, mas, isto
lhe custa um “pé no ouvido”, que fica zunindo até a próxima lua cheia. Cada
“toco de enxurrada” bate e apanha muito na vida. Nas guerras de molecada onde é
um por todos e todos por um, motivo são e muitos,sempre envolvendo a garota
alheia ou a bola de futebol, briga de mão que logo termina com a assinatura de
paz, e ali, nascem grandes amizades. Cada “toco de enxurrada”, passa pela
infância e cresce cheio de sonhos que o
transforma no jovem que se apaixona,
sofre desamores mas, continua a rolar, engastalhando-se ou buscando
corredeiras mais livres onde possa sonhar amar e criar novos troncos de
amizade. Você, por acaso conhece algum “toco de enxurrada”? Muitos já se foram
(Braz do Funil, Dolor Tomé, Chico Silvino...), mas, existem ainda centenas por
aí, dispostos a contar as paradas que tiveram em sua caminhada pela vida.
Procure um destes contadores de histórias, faça amizade e veja como valerá a
pena conhecê-los e prosear sobre suas passagens pelas enxurradas pelas quais
sobreviveram. Sempre que sentir vontade
de ouvir causos e lendas passadas procure-os, afinal vocês já serão amigos.
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