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4/05/2013

Milagre


por Adriano de O. Duque.
 
Um dia o Zé Ruço falou comigo, vamos tirar uns filhotes de gavião. O Dimas (Bar) também topou. Fomos lá. Era uma pedreira com uns bons cinquenta metros. Chegando lá, os dois recuaram. Eu fui. Firma o pé ali, agarra a mão aqui, até chegar na fenda. O gavião nos olhava de longe. Estava tranquilo, sabia que não era ali. Queria, talvez, que eu caísse, estava certo, afinal era seu ninho com suas crias que estavam em jogo. O ninho não estava na fenda. Dela voou apenas uma coruja assustada e quase me fez escorregar. Gritei que não tinha nada, eles gritaram para que eu descesse saindo por cima, era mais seguro.  
Com segurança não se brinca, mas... E são nestas reticências que tem os acidentes da brincadeira. Um tombo, uma queda, um osso quebrado, uma luxação e por aí vão os resultados da brincadeira com a falta de segurança. Ontem foi conosco, outro dia foi com um conhecido, mas não aprendemos, ou aprendemos até que vivenciamos o ditado da segurança.  
Por que é preciso aprendermos os limites com a dor? Muitas das vezes somos crianças, precisamos levar o choque para saber que em tomada não se mexe descalço ou com o relógio desligado.  
Levou tempo, depois da pedreira outros riscos continuaram (pular da ponte, por exemplo, como era gostoso, principalmente à noite, com um grau na cabeça e com o rio cheio).
Hoje, como quem para de beber ou fumar depois de trinta anos, posso dizer que a lição foi aprendida. Não subi pedreira ou pulei da ponte. Desta vez fiquei embaixo ajudando um amigo na poda de uns galhos de mangueira. Susto pra mim e dor para quem se intitulava homem-aranha. Em letras minúsculas mesmo, pois não somos nada disso que passa nas telas e revistas em quadrinhos. Temos ossos, e não teias; temos mãos, e não cordas ou guindastes; temos braços, e não asas. Então, homem-aranha o ... 
E se acreditamos ser super-heróis ou temos a crença de que as coisas ruins acontecem só com os outros, temos que aprender com dor e susto. No mais desse comportamento, é contar com a sorte ou milagre, como queiram; no mais é respirar aliviado diante do que poderia ser muito pior; no mais é gratificante ter uma grana pra agilizar um atendimento médico-cirúrgico. 
Prefiro achar que foi um milagre saber que o homem-aranha que estava lá em casa para pintar as paredes só quebrou o nariz num galho de mangueira. Prefiro rir com o médico, rir agora, do nariz que ficou bem melhor graças ao tombo, pois pôde ser melhorado com a cirurgia, sem contar a voz que não será mais fanhosa.  
Prefiro achar que foi um milagre. A pedreira era de algodão. O rio era banho dado por mãe. A mangueira era bonsai.

O Preço da Felicidade

por Virginia de Almeida Ferreira
 
Vamos deixar uma coisa clara logo de inicio: a felicidade não tem preço. Por isso, se algum dia tiver que pagar para resolver pequenos problemas, não pense que ficará pobre por isso. Muitas vezes na vida nós nos vemos diante de soluções que, aparentemente, são caras. Até temos o dinheiro naquele momento. Mas preferimos economizar tostões e acabamos por colocar em risco nossa vida e a dos outros. É o caso daquela visão do carro, de uma consulta em um bom especialista, da escolha entre dois produtos no supermercado. Diz o dito popular que não se faz "economia na base da porcaria". Tem seu lado de razão. Um dos grandes pecados que acabam por nos fazer sofrer muito (e os outros também) é a imprudência. É disto que quero falar hoje. A generosidade é a porta da felicidade. O avarento sempre é triste. Fica apegado às "coisinhas". Não consegue abrir a mão. E este é exatamente o segredo da felicidade: abrir a mão. Jesus nos revelou esse segredo quando disse de modo aparentemente contraditório: "Quem quiser guardar a sua vida vai perder, mas quem aceitar perdê-la "Vai ganhar". Não se iluda com derrotas aparentes. Muitas vezes temos que chegar ao fundo do poço, onde não existem mais soluções visíveis, para que possamos aceitar que há coisas que estão na mão de Deus. Ou na dos outros. A auto-suficiência também é inimiga da felicidade. Uma pessoa feliz é necessariamente humilde. Sabe pedir ajuda quando não consegue resolver os seus problemas. Certo. Nem sempre isso é fácil. É muito mais gostoso resolver tudo sozinho e depois deleitar-se com os louros da vitória. Mas para que serve tudo isso? Como diz o livro do Eclesiastes: "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade". O autor descobriu que os valores espirituais estão muito além das pequenas coisas da terra. Um rico muito rico nada leva daqui. No céu, não há bancos a "nem cartão de crédito. Mas, para lá chegar, precisamos viver neste "vale de lágrimas". Precisamos ser solidários. Os ricos inteligentes são desapegados de seu dinheiro e até agradecem àqueles que aceitam ser ajudados financeiramente. Dizem que quem dá aos pobres empresta a Deus. Então deve ter muito rico frustrado no purgatório por ter deixado uma grande herança para a "disputa judicial de seus filhos". Ele poderia ter ajudado os pobres. Poderia ter feito tanta caridade. Mas não entendeu a lição do "preço da felicidade". Podemos utilizar os bens com inteligência. Por que não o fazemos? Bom... a resposta é óbvia. Ser apegado aos bens deste mundo não é muito inteligente. Ouvi dizer que na África alguns caçadores utilizam um método bastante inusitado para pegar macacos. Colocam um coco com uma pequena abertura preso a uma árvore, com algumas frutinhas dentro. O macaquinho coloca a "mão na cumbuca" e fecha - a com as frutinhas dentro . Com isso a mão não sai do coco e ele fica preso. Você deve estar pensando: "Mas que ignorante este bicho!...Era Só abrir a mão que poderia fugir!"". Bem, a pergunta é: por que nem sempre fazemos o mesmo? Para ser feliz, é só abrir a mão. Esse é o preço da felicidade!

Dr. Décio: Um Homem, Uma Vida

Venho, há algum tempo, nutrindo a ideia de escrever algumas linhas sobre o Dr. Décio, como é carinhosamente tratado o eminente professor e advogado Décio Coelho da Silva, que vindo de Rio Pomba/MG, constituiu família nestas paragens com a sua saudosa Elvira, e hoje não mais me contive.

É uma honra para mim tê-lo como amigo, e dele sou profundo admirador.

Já se passaram algumas década desde quando, ao assumir o cargo de Escrivão e Tabelião do 1º Ofício, tornei-me vizinho da sala do Dr. Décio que, então, chefia a agência ou escritório do IBGE, instalado no prédio do Fórum de Rio Preto.

Desde então, fui, paulatinamente, passando a admirá-lo, quer pela sua sabedoria e sensatez nas questões do cotidiano, quer pela sua capacidade profissional e, acima de tudo, pela sua honradez e dignidade, tendo dele recebido lições valiosas, não só de direito, como de vida, que muito me ajudaram no meu crescimento profissional e pessoal.

Um homem desprovido dos sentimentos ruins que tanto nos empobrecem, um homem íntegro, um homem que sempre exerceu a advocacia sem estimular desavenças, ao contrário, desempenhando sempre o papel de "algodão entre cristais".

Dr. Décio, um homem que subiu os degraus da vida profissional por méritos próprios, com muito esforço, dedicação, estudo, tornando-se, assim, capaz e digno do exercício de seus misteres.

Enfim, um homem que construiu uma vida digna e carreiras brilhantes, sem escoras...

Dr. Décio, receba esta homenagem, dela o senhor é credor e eu, devedor.

Um forte abraço.

Pedro Paulo de Oliveira Filho – Professor e Advogado.

Conversa dos bichos

Viagem Literária - Rolando Boldrin
 
O Zequinha, menino de uns 10 anos de idade, era na fazenda do meu padrinho o que se pode chamar de "charrete boy". Na cidade tem o motoboy, não tem? Então! Nas fazendas tem – ou tinha naquele tempo, que já vai longe – o charrete boy. O menino que com a charrete do fazendeiro vai buscar as coisas ou as pessoas na cidade.
Pois naquele dia o Zequinha tinha ido buscar na cidade o Padre Antônio, que estava iniciando sua temporada por lá. Era um padre novo e tinha uma particularidade que a gente só ficou sabendo depois desse causinho que tô contando aqui e agora: ele era ventríloquo. Um dom que poucas pessoas possuem que é o de falar sem abrir a boca. Dizem que é uma técnica de emitir os sons pelo estômago. Aliás, um grande ventríloquo que existiu no Brasil foi o pai das cantoras Linda e Dircinha Batista. Chamava-se Batista Junior e se apresentava em circos e teatros. E, de lambuja, era um grande compositor.
Mas, seguindo no causo. O Padre Antônio sobe na charrete com o caipirinha Zequinha, ruma a fazenda do meu padrinho pra rezar uma missa. Logo na saída, o padre pergunta se era longe a tal fazenda, ao que o menino prontamente e muito espertamente lhe responde que levaria uns pares de horas. O que dava pra entender que era longe pra cacete e a viagem ia ser dolorosa ou dolorida para um padre que não estava acostumado a meter a bunda no banco duro de uma charrete velha conduzida por uma eguinha lerda.
PADRE – Oh, menino! Você sabia que os animais conversam?
ZEQUINHA – Entre eles, eu sabia, sim sinhô. Eles cunvérsa bastante.
PADRE – Não, filho. Estou dizendo que os animais conversam com a gente. Conosco. Mas para isso é preciso conversar com eles com muito amor. Você quer ver os animais conversando comigo?
Aí o menino, esperto, se encanta e atiça.
ZEQUINHA – Ara, sêo padre. Essa eu tô pagando pra vê. Animar conversa cum gente. Essa nunca vi não sinhô. E o sinhô me adiscurpa, mas num querdito.
PADRE (falando para a égua) – Dona eguinha! Está muito pesada a charrete? (E faz a voz da égua sem abrir a boca) Tááá...sêo padre.
O menino, num susto, pára a charrete.
ZEQUINHA(gaguejando) – Sêo...padre... a égua falo...a minha égua...respondeu pru sinhô...eu escutei...
PADRE – Todos os animais conversam com a gente. Quer ver mais?
O padre olha um urubu nos céus e fala:
PADRE – Bom dia, urubu. (E faz voz.) Bom dia, parceiro. Bom dia, sêo padre.
E assim o Padre Antônio foi se divertindo com a surpresa encantada daquele caboclinho, que viu com os próprios olhos e ouvia ali, in loco, os bichos falando com aquele padre. Com isso, a viagem, que poderia ser longa, terminou logo, logo.
ZEQUINHA – Óia, sêo Padre! O sinhô ta vendo aquela cabrita branca ali na grama? Por favor, o sinhô num querdite em nada que ela fala prô sinhô, viu!!!!!!
por Rolando Boldrin

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