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10/08/2010

CRÔNICA/POEMA RIOPRETANO

SOB TRÊS OLHARES
DIMAS C. LUZ – ADVOGADO

Trazida pelo bico de uma ave
Fui lançada ao solo, e ali eu nasci,
Temendo as chuvas e ventos fortes,
Mas consegui resistir.

Protegida por árvores e troncos, eu cresci.
Fiquei grande e formosa
E nas águas de um lago que fica próximo a mim, me via,
Eu era bonita sim.

Minha primeira florada foi uma festa,
Festa que nunca esqueci.
Alimentei as maritacas, as pombas e bem-te-vis;
Os beija-flores me abanavam e o néctar sugavam de mim.

Durante décadas e décadas minha vida foi assim:
Observando os filhos desta terra,
Eu pude ver o olhar de admiração
Que os homens lançavam para mim.

O tempo não parou
E o ciclo da vida se evidenciou
Fiquei doente e me entristeci.

A minha pele mudou de cor
As pessoas que me admiravam,
Já não olhavam da mesma forma para mim,
Podia perceber o olhar de medo
Que eu agora representava.

E em uma manhã de abril,
Uma movimentação estranha eu percebi,
Uma fita amarela e preta me isolava do jardim.

Pouco tempo demorou e uma grande máquina de mim se aproximou.
Parecia uma grande aranha de ferro
E nos seus braços eu vi
Um homem em uma gaiola,
Portando uma faca elétrica,
Foi erguido junto ao meu corpo
E eu tremi.

Percebi que estava próxima do fim
O medo assolou toda minha existência
E não resisti,
Chorei, chorei, mas calada permaneci.

Minhas lágrimas pelo meu corpo rolaram,
Embora sob muitos olhares, ninguém se manifestou.
A faca elétrica foi ligada,
E aquele homem
Estranho não teve pena de mim.

A cada membro que me era decepado
Me lembrava dos momentos que vivi
Quantas manhãs vi o nascer do sol
Quanta água da chuva eu bebi
Quantos filhos e filhas desta terra caminharam junto a mim.

Amparei e alimentei muitos pássaros,
Insetos e plantas, nunca me omiti
Já sem meus membros, meu tronco
Foi golpeado por fim.

Fui lançada ao solo
E ali deitada eu percebi
O olhar de piedade que os homens
Lançavam pra mim.

O homem não é de todo ruim
Os olhares de admiração, medo e piedade
Marcaram meu início, meio e o fim.

Agora restam minhas raízes
Que estão cravadas no solo
Meus descendentes estão prontos
Para viver os três olhares
Que eu também já vivi.

Para aqueles que já não se lembram mais de mim
Fui uma árvore de Muchoco
Que em Rio Preto-MG nasci, vivi e morri
No torrão de um Jardim.

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