SOS ARGUMENTO

O Argumento precisa de sua ajuda. Faça uma doação para a C/C 07212 6, Agência 4570, Banco Itaú.

Contato - jornalargumento@yahoo.com.br


8/22/2011

NOSSA CRÔNICA

SORTE NAS PESCARIAS, por Aloísio M. Morais – Advogado e Jornalista.


Não sei se lenda ou verdade, o fato é que o Joaquim viu o Caboclo d’Água enquanto pescava na beira do rio Preto. Eu não quero que essa história fique por minha conta, que você, leitor, ache que é da minha inteira responsabilidade o que passo a contar. Não, quem dá a certidão do ocorrido é o Joaquim, riopretano e meu grande amigo.

- “Nasci, cresci e me criei sentindo nos pés o frio das águas do rio” – disse Joaquim ao falar do nosso santuário ecológico, o rio Preto. – “Aprendi, desde menino (hoje Joaquim já passou dos 70), que o rio é, ao mesmo tempo, vida e morte. Nas suas águas se escondem os lambaris, piaus, bagres e dourados. Agora..., tem outros, ainda ...”.

- Que outros? – indaguei.

- O Caboclo d’Água – disse, olho no olho e sério, sem piscar, prá não ser enganado por um possível e desconfiado riso meu, que não aconteceu.

E então Joaquim passou a definir como é o tal: - “É um baita dum negão, forte e esperto que nem cobra. Escorrega n’água sem fazer borbulha. O que eu vi na semana passada, enquanto pescava na Bôca-da-barra, tava cuspindo água pelas ventas de tão brabo com o lixo que descia por cima do rio”.

Segundo o meu amigo, o Caboclo d’Água defende o rio Preto assombrando os maus pescadores ou garimpeiros. Ele diz que no tempo que o garimpo estava ativo, nos idos de 90 e poucos, “eu vi o negão afundar embarcação dos ladrões de ouro do rio”- garante. Um dos mitos que corre à boca miúda, entre os pescadores, é que uma das maneiras de acalmar a ira do Caboclo d’Água é jogando fumo de rolo no rio.

Leitor, continuo a duvidar se o que escrevo é mesmo uma lenda. Sem me importar com isso, sei que faz essa história parte do nosso folclore. Sobre outras falácias, virtuais que sejam, como a do lerdo Jabuti, que habita temporariamente um oiti na Rua Larga, também não posso garantir nada sobre a sua existência. Uma boa história para contar, a ponto de fazê-lo, leitor ou leitora, ficar um pouco atento a estas linhas, é o que está me importar agora.

Mas, não percamos de vista da imaginação o nosso Caboclo d’Água. Afirma o Joaquim que quando o bicho não gosta de um pescador “ele afugenta os peixes para longe deles”. E diz ele que tem “Cabocla d’Água, fêmea, que até põe peixe em anzol de pescador quando se vê apaixonada por ele”. É por isso que às vezes, de cima da ponte, algum pescador diz que pegou o maior piau da região (“ele não sabe de nada...”- diz Quincas, rindo).

E tem mais, acrescenta o meu interlocutor pescador: -”o negão não vive só dentro da água. Ele também gosta de ficar deitado de barriga prá cima, em terra, às margens do rio em dia de muito sol”. Segundo Joaquim, “os pés dele são parecidos com pés de pato, e, debaixo dos dois braços tem nadadeiras”.

Para terminar sua história o meu amigo revela que é muito comum ele se encontrar com o Caboclo d’Água quando vai pescar na beira do rio Preto. – “Posso dizer que sou um homem de sorte, pois sempre trago para casa bons peixes. O segredo é que eu trato muito bem o bicho. Sei que ele gosta de uma boa cachaça. Por isso, levo sempre prá beira do rio uma boazinha prá ele. Depois é só esperar que no anzol vem peixe” .

O Quincas pode enganar a outro, mas não a mim. Pelo que fiquei sabendo, também à boca miúda, através de um outro pescador, é que o Joaquim está de caso com uma Cabocla d’Água. Por isso é que tem tido sorte nas pescarias pegando piaus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Translate