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7/28/2010

IMORTAL

IMORTAL
Dimas Cyrne da Luz


O verão acenava sua despedida, e naquela tarde o sol já estava cansado. Em uma casa simples, localizada atrás da Igreja Nosso Senhor dos Passos, em Rio Preto-MG., uma mulher sufocava seus gritos de dor provocados pela missão de trazer ao mundo uma nova vida, que havia sido preparada durante nove meses. Em um calendário pendurado na parede podia se ver que era o dia dezoito de março de mil novecentos e vinte três.
De repente ouve-se o choro de uma criança, uma menina linda que acabava de nascer. Ela recebeu o nome de Ambrosina, cujo significado é “imortal”.
Teve sua infância como qualquer outra criança pobre, brincou com uma boneca de pano e jogou com bola de meia, andava quase sempre sem calçados nos pés, com seus frágeis braços já tinha a tarefa de apanhar água em um chafariz que existia no Largo do Rosário, para abastecer o filtro de barro que tinha em sua casa. A vida foi passando, e sua família foi aumentando a cada ano. Chegou a hora de ir para a escola, para aquela menina o Grupo Escolar era um mundo novo, era um encanto, novas amigas, novas pessoas e ensinamentos muito interessantes que se aprendia.
Este sonho durou apenas quatro anos, ela foi escolhida por sua genitora para uma função mais importante, fora eleita para ajudar na criação da irmandade, pois a esta altura sua família já estava numerosa. Embora ainda criança sem esboçar qualquer gesto de revolta, abraçou esta missão. O tempo foi passando, a juventude bateu em sua porta. Agora podia-se ver uma moça belíssima, seus olhos claros, estatura mediana, cabelos pretos, e um corpo esbelto. Era um novo ciclo, mas suas tarefas como: acender fogão a lenha, ajudar na feitura das refeições, banhar seus irmãos nas águas do rio Preto, passar roupas, preparar mamadeiras e cantar música de ninar para seus irmãos e irmãs menores, continuava. Ela se entregou de corpo e alma para não decepcionar em sua missão...A vida não para, e tudo tem seu tempo certo, agora é hora de namorar, e assim aconteceu. O primeiro pretendente era um militar e não caiu nas graças da sogra, o segundo era um operário de origem portuguesa com que se casou.
Sua primeira missão estava terminada, sua irmandade estava criada, começa um novo tempo. Sempre dedicada á família, vivendo modestamente, cuidou muito bem do marido e dos filhos, sem em momento algum deixar também de se dedicar à Religião Católica. Teve vários filhos, mas por designo de Deus, teve que sentir a dor da perda da maioria deles e ainda a perda de seu companheiro. Mas nunca perdeu a fé no Pai Eterno. A vida continua, como servente e cantineira do Ginásio, ganhou muito sorriso dos alunos, dos professores e colegas de trabalho, talvez uma compensação dos seus filhos perdidos.
Ali, naquele estabelecimento de ensino, fez muitas amizades, podendo-se perceber que sua jornada não foi em vão.
Agora a senhora Ambrosina, conhecida como Dona Buzica, completa oitenta e seis anos de idade. Em seu rosto está desenhado o mapa do tempo, seus cabelos brancos como as flores da paineira, sua voz está rasteira como a relva, caminha devagar. A firmeza das mãos está se ausentando, mas ainda consegue segurar o rosário para fazer orações. A senhora Dona Buzica é como muitas mulheres. Não na parede um diploma expedido por uma faculdade, não está concorrendo a nenhum Oscar, ao prêmio Nobel, ou talvez nunca seja homenageada em uma placa, ou mesmo ganhe uma medalha de honra ao mérito. Não fique triste, pois a senhora sempre foi uma das primeiras alunas na Escola da Vida.
Quanto aos prêmios, a senhora já ganhou todos que realmente são interessantes, como o respeito, a admiração e o carinho de todos os que a conhecem.
As placas e medalhas são metais frios, pois as verdadeiras homenagens são aquelas que não usamos pregos nem fitas, mas a que afixamos dentro de nossos corações, e isso a senhora conseguiu.
A senhora, Dona Buzica, é como milhões de mulheres que existiram, existem e vão existir no mundo, dedicando a vida unicamente a um propósito que é contribuir para o bem estar da humanidade.
Deus criou o mundo, colocou nele as belezas naturais, como os vales, as montanhas, os rios e mares, as flores e as florestas, os animais, a lua e a noite, o sol e o dia, e o ser humano, mas sem qualquer sombra de dúvida, a obra prima de Deus são as mães.
As mães nunca morrem, mesmo quando se transportam para outro plano. Elas continuam tomando conta de seus filhos e filhas, por isso, Dona Buzica, que a senhora é Imortal, como todas as Mães.

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