Futebol. O escritor
Lima Barreto detestava, dizia que era o atraso do Brasil. Na canção “Outras
Frequências”, os Engenheiros do Havaí cantam que futebol é uma bobagem. O
governo Federal anda até com um slogan sobre o quanto seríamos melhores
se a nossa paixão fosse a educação, mas não o futebol. Já pensou?
Pois é, mesmo
pensando nisso tudo, ainda gosto de futebol. É uma paixão. E por ser paixão não
há escritor, músico e muito menos governo que vá me demover deste sentimento.
Como todo apaixonado, confesso também que sou um sem vergonha. Sei que há mais
colorido nas chuteiras e mais desenhos nos cabelos do que nas jogadas. Vibramos
mais com craques do que com os times (as finais são óbvias). E os craques estão
cada vez mais escassos. De um em um vamos alimentando nossa paixão miserável. E
as mesas redondas são postas sempre em torno deles. Chatas por isso. A bola da
vez é Neymar e talvez o Fred. Antes, o Ronaldinho que veio para substituir o
Ronaldão. Mesmo assim a gente está sempre lá esperando a quarta, esperando o
final da novela, lendo as notícias do Barça e por aí vai a nossa paixão com sua
caixinha de pouquíssimas surpresas.
Sei que muitos estão
se desapaixonando. Sequer olham as manchetes nas bancas de jornais. Alguns
ficaram até sem assunto. Ou melhor, falam do seu sentimento que acabou. E como
reclamam. Reclamam e têm lá suas razões, esta paixão acaba mesmo com a gente.
Somos traídos nos campos para todo mundo ver. Os craques de várzea sumiram com
a várzea. Agora é tudo bonitinho, arrumadinho, marcadinho, coloridinho, etc. No
diminuto disfarce sobra pouca coisa boa, a filantropia é uma delas. Um jogo
para levantar recursos e, mais que isso, fortalecer pessoas especiais merece
toda nossa emoção e divulgação. Quer um exemplo do quanto o futebol vale a pena
neste sentido: o jogo em prol da Apae.
Voltando ao futebol
das jogadas e dos campeonatos, lamentou um desapaixonado amigo que as
arquibancadas também estão mudando. Para a Copa, falou, teremos ingressos no
valor de R$600,00 para as arquibancadas (quase um salário mínimo), R$2.000,00
para as cadeiras, sem contar que os instrumentos musicais serão proibidos. É
isso aí, nada daquele surdão e muito menos povão nos estádios do mundial.
Arremata que as quatro linhas do campo estão dominadas por cartolas, bicheiros,
enfim, por quem lá no fundo quer o futebol para lavar dinheiro, sonegar
impostos e fazer política. É claro que estamos falando dos grandes, os pequenos
só imitam esta triste realidade e dão pernada para sobreviver neste campo e às
custas da nossa paixão. É claro também que temos grandes e pequenos apaixonados
pelo futebol.
Tenho pena do meu amigo que não gosta mais de futebol. Ele fazia
bons comentários, era mais feliz - mesmo sofrendo como a gente. Tomará que
tenha uma recaída com a Copa do Mundo que vem por aí. Tomará que se apaixone novamente e volte para
a nossa mesa e conversas. Quanto a mim, estou seguro com esta paixão. Mesmo
jogando diametralmente de forma oposta do que os lá de casa jogavam, provei bem
cedo o gosto bom do futebol, que é o de jogar, torcer e, agora, vê-lo também
associado a questões filantrópicas.