por Adriano de O. Duque.
Um dia o
Zé Ruço falou comigo, vamos tirar uns filhotes de gavião. O Dimas (Bar) também
topou. Fomos lá. Era uma pedreira com uns bons cinquenta metros. Chegando lá,
os dois recuaram. Eu fui. Firma o pé ali, agarra a mão aqui, até chegar na
fenda. O gavião nos olhava de longe. Estava tranquilo, sabia que não era ali.
Queria, talvez, que eu caísse, estava certo, afinal era seu ninho com suas
crias que estavam em jogo. O ninho não estava na fenda. Dela voou apenas uma
coruja assustada e quase me fez escorregar. Gritei que não tinha nada, eles
gritaram para que eu descesse saindo por cima, era mais seguro.
Com
segurança não se brinca, mas... E são nestas reticências que tem os acidentes
da brincadeira. Um tombo, uma queda, um osso quebrado, uma luxação e por aí vão
os resultados da brincadeira com a falta de segurança. Ontem foi conosco, outro
dia foi com um conhecido, mas não aprendemos, ou aprendemos até que vivenciamos
o ditado da segurança.
Por que
é preciso aprendermos os limites com a dor? Muitas das vezes somos crianças,
precisamos levar o choque para saber que em tomada não se mexe descalço ou com
o relógio desligado.
Levou
tempo, depois da pedreira outros riscos continuaram (pular da ponte, por
exemplo, como era gostoso, principalmente à noite, com um grau na cabeça e com
o rio cheio).
Hoje,
como quem para de beber ou fumar depois de trinta anos, posso dizer que a lição
foi aprendida. Não subi pedreira ou pulei da ponte. Desta vez fiquei embaixo
ajudando um amigo na poda de uns galhos de mangueira. Susto pra mim e dor para
quem se intitulava homem-aranha. Em letras minúsculas mesmo, pois não somos
nada disso que passa nas telas e revistas em quadrinhos. Temos ossos, e não teias;
temos mãos, e não cordas ou guindastes; temos braços, e não asas. Então,
homem-aranha o ...
E se acreditamos
ser super-heróis ou temos a crença de que as coisas ruins acontecem só com os
outros, temos que aprender com dor e susto. No mais desse comportamento, é contar com a sorte ou milagre, como queiram; no mais é respirar aliviado
diante do que poderia ser muito pior; no mais é gratificante ter uma grana pra
agilizar um atendimento médico-cirúrgico.
Prefiro
achar que foi um milagre saber que o homem-aranha que estava lá em casa para
pintar as paredes só quebrou o nariz num galho de mangueira. Prefiro rir com o
médico, rir agora, do nariz que ficou bem melhor graças ao tombo, pois pôde ser
melhorado com a cirurgia, sem contar a voz que não será mais fanhosa.
Prefiro achar
que foi um milagre. A pedreira era de algodão. O rio era banho dado por mãe. A mangueira
era bonsai.