Sr. José Diogo. Joia Rara da edição janeiro/fevereiro.
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2/04/2014
Você usaria para enfeite a fotografia de um político?
Você
usaria para enfeite a fotografia de um político?
Poderia ficar falando muito ainda dos seus feitos, de sua vida pra lá de exemplar, como: ele doa 90% do seu salário e explica “Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos”; usa as mesmas roupas; desfruta a companhia dos mesmos amigos antes de chegar ao poder.
Perguntinha
que qualquer enquete daria 90% para “claro que não”. Afinal, 90% dos políticos
são umas, complete, que esta também é fácil: ...
Pois é,
mas têm aqueles 10% de políticos que merecem homenagem e propaganda. Isso,
também não podemos negar. O Lula estaria nestes 10%? Creio que sim. Votei quatro
vezes e continuarei votando no Lula, mas não arriscaria tê-lo como um símbolo
de luta, pois entendo que faltou-lhe algo mais, como a luta contra os
poderosos. Só para exemplificar, faltou-lhe o enfrentamento das cinco famílias
que monopolizam a imprensa brasileira. Neste ponto, deveria ter feito o que a
presidente da Argentina Cristina Cristine fez contra o grupo de comunicação Clarín.
Ela não se intimidou e quebrou o monopólio da empresa, impondo uma série de
restrições ao acúmulo de propriedade cruzada nos meios de comunicação, com isso
democratizou a informação.
Lula não
fez isso com as organizações Globo. Um político completo tem que ir além de
programas sociais. Lula tem sua história, suas lutas antes de chegar ao poder e
suas conquistas quando chegou ao poder, por exemplo, tirou 50 milhões de
brasileiros da miséria e levou energia elétrica para o campo, mas seu governo
ficou marcado por recuos históricos (curvou-se a certos grupos, fez alianças
decepcionantes e, em nome da “governabilidade”, presenciou a criação, por uma
parte do PT, do “mensalão”).
A
pergunta acima continua sem resposta. Ou melhor, continuava, pois a gente
responde que sim. Coloquei um presidente na tela do meu computador. Pois é.
Trata-se
de um presidente que não esbanja luxo, mas simplicidade e compromisso com seu
povo. E por ser assim já está cotado para ser Nobel da Paz. Estou falando do Mujica,
o Pepe, presidente uruguaio. Ele é um exemplo de economia para os cofres
públicos, quando viaja de avião, vai na classe econômica. Ele é um exemplo de
vida simples, quando viaja de carro, vai no seu fusquinha, ou melhor, um
fuscão. E a casa do presidente Mujica (não mora na residência oficial, sobre esta
ele já declarou que se preciso for vai virar abrigo para os moradores de rua)
não é nenhum palacete, tem até aquele musgo que nasce grudado nos degraus de
qualquer escada simples e, em volta da casa, é aquela cachorrada verdadeira: só
dá vira-latas. E por aí vai sua casa e sua vida que nada se parecem com as
casas e estilos daqueles que estão no alto escalão do poder.
O maior
orgulho do presidente uruguaio é andar pelas ruas de seu país sem uma penca de
seguranças, ele vai sozinho mesmo e entra em qualquer lugar. Por onde anda, é
louvado. O povo uruguaio confia em suas decisões.
Por tudo
isso, é fácil concluir que Mujica é um presidente que vive os dizeres do
filósofo São Tomás de Aquino: “Um homem não pode ter o supérfluo enquanto o
outro não tem o essencial”. E ele vai em busca do essencial a caráter: de carro
e moradia populares. E o essencial de Mujica vai além do material e,
convenhamos, é muito grande para o mundo de hoje. Sua busca ultrapassa a
conquista por moradia, emprego e comida. Mujica quer liberdade, livre arbítrio
para o seu povo.
Poderia ficar falando muito ainda dos seus feitos, de sua vida pra lá de exemplar, como: ele doa 90% do seu salário e explica “Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos”; usa as mesmas roupas; desfruta a companhia dos mesmos amigos antes de chegar ao poder.
Para
Mujica vão faltar prêmios e homenagens. Já para a classe política que só pensa
em roubar e ostentar mansões, aviões, carrões, as faltas são outras: vergonha,
respeito e, claro, prisão e confisco de bens.
Vida
longa ao Pepe Mujica.
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