por, Virgínia Almeida Ferreira.
Que saudades eu
tenho dos beijos melados de nossas crianças, com os lábios brilhantes da calda
de açúcar raspada da panela onde fora feita a calda do pudim de leite de nossas
mães, das gargalhadas que davam ao verem os dentinhos colados com as balas
puxa-puxa feitas para as festinhas infantis, dos olhinhos marotos ao ouvirem as
histórias contadas ao fim da tarde na varanda olhando as estrelas no céu!...
“A verdade é que a criança gosta de histórias como gosta de
caramelos e de brinquedo” (Josue Montelo
).Outro dia dei de encontro com um texto de Janusz Korczak que me chamou muita
atenção. Ele dizia: - “Vocês dizem: Cansa-nos ter de privar com crianças. Têm
razão. Vocês dizem ainda: - Cansa-nos, porque precisamos descer ao seu nível de
compreensão. Descer, rebaixar-se, inclinar-se, ficar curvado. – Não é isto que
nos cansa, e sim, o fato de termos de elevar-nos até alcançar o nível dos
sentimentos das crianças. Elevar-nos, subir, ficar na ponta dos pés, estender a
mão. Para não machucá-las. Para mim,
livro é vida: desde que era muito pequena os livros faziam parte de meu dia a
dia pois, meu pai incentivava-nos a ler contando-nos histórias e nutrindo nossa estante de livros infantis. Quando era criança brincava de construtora
com pecinhas de madeira, livro era tijolo: em pé, fazia parede: deitado, fazia
degrau da escada: inclinado, encostava num outro e fazia telhado. E quando a
casinha ficava pronta eu me esprimia lá dentro para brincar de morar em livro.
De casa em casa fui descobrindo o mundo( de tanto olhar para paredes) olhando
desenhos e decifrando palavras. Fui crescendo e derrubando telhados com a
cabeça. Mas fui ficando intimas com as
palavras e menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas
casas. Todo dia minha imaginação
comia, comia, e comia; e de barriga assim tão cheia , me levava pra morar no mundo inteiro;
iglus, cabanas, palácios, arranha-céus, jardins encantados, era só escolher e pronto, o livro me dava.
Foi assim que, devagarzinho, me habituei com essa troca tão gostosa que no meu
jeito de ver as coisas – é a troca da própria vida quanto mais eu buscava o
livro, mais ele me dava. Hoje busco reunir meus sobrinhos e netos ensinando -os a fabricar tijolos - em um lugar- para
poderem levantar a casa onde um dia irão morar. Ler par uma criança,
tornou-se essencial neste mundo onde a
criatividade está ficando para trás. Lembre-se que existe um monte de histórias
esperando para serem lidas para as crianças e este é um gesto simples e muito
importante. Hoje virei um “contador de histórias” pois venho notando que as
histórias de “era uma vez” estão ficando
cada vez mais abandonadas em um reino
muito distante. Nada mais compensador do que observar os olhos de uma
criança quando estão ouvindo uma história. Em uma história bem contada de
monstros, princesas ou de herói, as crianças estão aprendendo a olhar a própria
vida e a conhecer um pouco de si. Nada melhor do que ler para os pequeninos na
hora de dormir, pois eles precisam de sonhos e quanto mais mágico for o final
da história mais realizados eles ficarão
e dormirão embalados pela doce magia de
ouvir histórias contadas pelas pessoas que eles
mais amam.