Peça teatral infantil, de ato
único e cena idem, para criancinhas mais ou menos espertas de oito a oitenta e
oito anos, cometida inadvertidamente pelo titio FRASME e levada ao palco pelo
vitorioso grupo “TEATRINHO CRIANÇA FELIZ”
Media luz. Abrem-se as
cortinas. Como fantasmas, sombras perambulam por sobre o palco. Música, do
eterno Lupicínio Rodrigues, em surdina. Quem canta é velho Jamelão. Seu vozerio
dança com as sombras.:
# VOCÊ SABE O QUE É TER UM
AMOR, MEU SENHOR k&
# TER LOUCURA POR UMA MULHER
# E DEPOIS ENCONTRAR ESSE
AMOR, MEU SENHORk&
# NOS BRAÇOS DE UM OUTRO
QUALUER k&
A luz aumenta a intensidade
paulatinamente. As sombras transformam-se em imagens reais do Tigrão e do Lobão
I que, trajando ambos fina estampa, estão abraçados como se um corpo apenas
fosse, aos “beijos e abraços” (2) como bem diria aquele nobre causídico, ao
alegar legitima defesa da honra do seu (lá dele) cliente.
No canto esquerdo do palco
(3) o rei Leão, debulhado em lágrimas, eleva sua poderosa voz por sobre a
música ambiental:
# VOCÊ SABE O QUE É TER UM
AMOR, MEU SENHOR
# E POR ELE QUASE MORRER
# E DEPOIS ENCONTRÁ-LO EM UM
BRAÇO
# QUE NEM UM PEDAÇO DO SEU
PODE SER
Do outro lado, quer dizer do
lado direito do palco (4), a Tigresa e o grande Lobão II, em dueto uníssono,
entoam como se respondessem ao queixume do rei Leão:
# HÁ PESSOAS DE NERVOS DE
AÇOk&
# SEM SANGUE NAS VEIAS E SEM
CORAÇÃO
# MAS NÃO SEI SE PASSANDO O
QUE EU PASSO
# TALVEZ NÃO LHES VENHA
QUALQUER REAÇÃO
No fundo do palco o grande coral
formado pelos Esquilinhos Trabalhadores, Raposa, Tourinho Gir, Mussaranho,
Advogado (5), Gallo China, e mais um porção de bichinhos não nominados, cantam
a plenos pulmões:
# EU NÃO SEI SE O QUE TRAGO
NO PEITO
# É CIÚME, DESPEITO, AMIZADE
OU HORROR
# EU SÓ SEI É QUE QUANDO A
VEJO
# ME DÁ UM DESEJO DE MORTE OU
DE DOR
Cai o pano. As luzes são
acesas. A platéia inteira delira aplaudindo, freneticamente, o formidável
elenco. Alguém, que estava perto do Burro, jura que o ouviu murmurar:
- É, o Lobão I foi o último a
entrar no ônibus, mas já está sentado na janela...
Esta modesta, simplória,
pífia, humilde e “malescrita” fabuleta é uma homenagem “idem-
tudo-aquilo-anterior”, ao MILLÔR FERNANDES (6).
Notas, pretensamente,
esclarecedoras ou TITIO FRASME é cultura. A expressão teve origem nas cenas de
pessoas sentadas em bares, com os cotovelos apoiados no balcão bebendo e
chorando um amor perdido. De tanto ficar naquela posição, as pessoas ficavam
com “dores no cotovelo”. Como diziam aqueles antigos advogados nos tribunais de
júri quando, defendendo maridos traídos assassinos de esposas “amadas”,
justificavam:- “Viu sua esposa aos beijos e abraços com o outro, matou por
amor! O grande Leão sente-se melhor à esquerda. Esquerda ou direita? “O que eu
não entendo hoje, naquele tempo eu não sabia” como disse o Riobaldo Tatarana em
Grandes Sertões de JGR. Advogados estão, obrigatoriamente, em tudo que é lugar.
MILLÔR FERNANDES era super, hiper, fabuloso, fenomenal, insuperável,
inconcebível, maravilhoso, melhor de todos. Recentemente cansou-se deste eterno
“non sense” e foi embora para onde ele pensava não existir. *FRASME vive em São
Cristóvão cometendo peças teatrais infantis, de ato único, que criança nenhuma
entende, para um jornaleco que ninguém lê.
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