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5/05/2010

Ela está viva

Aloisio Melo Morais - Jornalista e Advogado

- “Morreu de terremoto, no Haiti”. Este é o necrológio que condena e condenará o futuro sobre Zilda Arns. Mas, mesmo falecendo tragicamente, sob os escombros de uma igreja, Zilda morreu em combate.
- Mas, como em combate, se ela não tinha metralhadora nem fuzil nas mãos? – perguntarão os muitos alienados da história dessa pediatra e sanitarista. Então, quem foi e o que fazia ela no Haiti no momento de sua morte?
Antes, precisamos lembrar que lá pelos anos 80, quando morriam no Brasil 83 crianças em cada mil nascidas vivas, Zilda, então com 45 anos e já uma médica dedicada à causa infantil, foi convocada por seu irmão, Dom Paulo Evaristo Arns (Arcebispo de São Paulo), para elaborar e chefiar, com apoio da igreja católica, um programa de combate à mortalidade infantil na capital paulista.
Um programa, que não se limitou apenas a São Paulo mas que, pela sua eficácia, expandiu-se para todo o Brasil, reduzindo a 23 os óbitos infantis em cada mil crianças, dados atuais do Ministério da Saúde, em 2009.
E esse resultado se deve à Pastoral da Criança, o programa de combate à mortalidade infantil criado nos anos 80 por Zilda Arns. O que se admira na obra dessa médica é o contraste entre os resultados e a simplicidade dos métodos empregados para diminuir as mortes infantis.
Sem a necessidade dos aparatos governamentais da propaganda e dos palanques, o combate às mortes prematuras de crianças carentes vem sendo combatido no Brasil pela Pastoral da Criança, da maneira mais simples possível: com sorinho caseiro e a multimistura.
Ou seja, os pequenos recém-nascidos recebem água, açúcar e sal e, com isso, a desidratação, maior causa da mortalidade infantil, está sendo posta a nocaute. E, a multimistura de casca de ovo, arroz, milho, semente de abóbora e outros ingredientes simples, está sendo a munição da metralhadora que dispara contra a desnutrição.
O que Zilda Arns fazia no momento de sua morte no Haiti era exatamente isso: ensinava aos haitianos uma dieta básica de boa alimentação e com poucos recursos financeiros. Ela exercitava, mais uma vez (porque no Brasil isso era uma constante) o milagre da multiplicação da boa vontade. A ordem na Pastoral da Criança sempre foi ensinar e fazer com que os que aprendem passem também a ensinar.
E é assim que a Pastoral da Criança conta hoje no Brasil com cerca de 260 mil voluntários. Eles estão espalhados por todos os rincões do país, fazendo com que mais e mais crianças sobrevivam à fome e a desidratação.
Mas, vão além as idéias implantadas por Dona Zilda Arns. Ela também ensinou a persistir. Se consistisse o trabalho da Pastoral de apenas dar o sorinho e a miltimistura estaria se repetindo as demagogas políticas públicas que, até agora vêm sendo tentadas por sucessivos governos.
A razão do sucesso da pastoral é a assistência do voluntariado que, graciosamente, volta às casas das famílias assistidas pelo programa para fazer o acompanhamento do emprego das receitas. Um instrumento básico disso é a balança que mede a evolução da criança, através do seu peso.
Morreu em combate Zilda Arns, não com metralhadora e fuzil nas mãos, mas apenas com vontade de salvar vidas. Sua munição era o amor, inoculado em milhares de pessoas que, como ela, fazem crianças renascerem Brasil a fora.

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