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7/28/2010

CONVERSA DE PESCADOR

Adriano de O. duque
A expressão “conversa de pescador” vai além de todo tipo de mentira, já que serve também para florear muitas verdades. É difícil uma conversa que não tenha um pouquinho, com modéstia, da proeza do pai desta expressão, o pescador. Aliás, já foi contado pelos estudiosos, principalmente das esquinas e dos bares, que a mentira é decisiva em três ocasiões: antes de uma eleição; durante uma guerra; e, claro, depois de uma pescaria.
Conto um fato que, apesar de ter como protagonista um peixe grande, não é conversa de pescador. Ou melhor, não é totalmente conversa de pescador. O fato é que foi pescado, segundo os pescadores e, principalmente não-pescadores, um piau, no nosso rio Preto, com mais de cinco quilos. O bicho foi fotografado, medido e pesado na presença de muitas testemunhas. Diante do tamanho deste peixe é de se questionar a sua idade, primeiramente. Até aqui tudo bem. É só acessar a internet e logo milhares de informações se apresentarão. Rapidamente aprenderemos que um piau vive em média 15 anos, podendo atingir até 10 kg (na região Norte, 15 kg). Com os dados acima, o pescado no rio Preto e o da internet, podemos afirmar que o tirado aqui era um velho piau. Seguindo adiante outros questionamentos surgem. Um deles quer saber como este peixe conseguiu chegar a este peso e idade. Está difícil achar uma resposta racional para tal indagação. Assim, o melhor é procurar uma saída de pescador. Afirmar que se trata de um piau que tem, digamos assim, uma escama a mais do que os outros peixes, pois soube reconhecer a dor da isca viva atravessada pelo traiçoeiro anzol. E, desenvolvendo suas habilidades de autopreservação, foi crescendo: evitou e escapou de redes, tarrafas (talvez até daquela que um dia joguei), covos, arrastões, peneiras, fisgas, armadilhas-de-mandioca etc. Venceu todos esses apetrechos e gerações de pescadores. E continuou vencendo diante de outros predadores. Não foi flechado pelo martim-pescador, caiu fora do papo da garça, bem como do sorriso afiado da lontra. E, por fim, cresceu escapando dos de sua raça. Soube diferenciar um toco de uma traíra etc.
Por tudo isso, certamente, fez história lá embaixo. Conselhos, deve ter borbulhado muitos. Entre os seus era, sem dúvida, um herói. Mas cansou-se desta vida tensa e perigosa. Virou um herói triste e das profundezas dos remansos. Pois, lá em cima, não tinha mais olhos para ver os seus semelhantes fisgados, malhados e envenenados a cada curva de rio. Lá embaixo, por sua vez, era aquela paradeira, não havia uma língua d’água para pular na boca da noite. Era só aquela escuridão fria e parada. Resolveu, então, morrer diante da primeira armadilha. Não foi muito longe para encontrar um velho inimigo com seu mais que manjado disfarce, o anzol. E, ao invés de ser fisgado, como falam as conversas de pescadores, ele se entregou.

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